sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Show com trilhas do TPI celebra 20 anos do grupo

Integrando as atividades comemorativas dos 20 anos do Teatro Popular de Ilhéus (TPI), a Cia. Boi da Cara Preta está montando um show com as trilhas musicais de espetáculos do grupo. Intitulado Teatro para Ouvir, o novo espetáculo deve estrear na segunda quinzena de abril. “Será uma forma de preservarmos a história construída ao longo dessas duas décadas, relembrar peças marcantes e apresentá-las para um novo público”, declarou a diretora geral, Tânia Barbosa.

A Cia. Boi da Cara Preta faz parte do Núcleo Infantojuvenil do Teatro Popular de Ilhéus. O elenco é composto por atores, atrizes e músicos experientes em cantar e executar as trilhas musicais ao vivo. “A formação musical é um processo que vem acontecendo a cada espetáculo. As canções já estão prontas, mas podem ganhar novos arranjos”, adiantou o diretor musical, Elielton Cabeça.

Teatro para Ouvir será apresentado ao ar livre, no palco rodante, reboque projetado pelo arquiteto Carl von Hauenschild que levou Medida por Medida às ruas de Salvador e Ilhéus. Além das trilhas musicais do TPI, vai contar também com recursos audiovisuais e pequenas cenas teatrais. O repertório não seguirá uma ordem cronológica dos espetáculos e, como a duração máxima será de 1h30min, o show terá outras edições, a fim abarcar o máximo de canções.

O show musical integra o Festival TPI 20 anos, uma série de atividades comemorativas. Até o final deste ano, haverá bate-papos e debates com personalidades importantes para a história do Teatro Popular de Ilhéus, através do projeto Improviso, Oxente!; remontagem de A história engraçada e singela de Fuscão – o quase capão – e o cabo eleitoral, espetáculo de estreia do grupo em 1995, escrito por Équio Reis; montagem de Iararana, de Sosígenes Costa, em parceria com o diretor cubano Luis Alberto Alonso. Ainda será lançado o livro “A vida é uma rima: biografia do Teatro Popular de Ilhéus”, do jornalista, pesquisador e crítico teatral, Valmir Santos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O TPI denunciando a corrupção


Quem assiste hoje a comédia “Teodorico Majestade, as últimas horas de um prefeito” ou “O Inspetor Geral”, ambos de Romualdo Lisboa, pode até considerar o Teatro Popular de Ilhéus um grupo ousado, expondo e criticando as mazelas políticas. 

Sim, o grupo é politicamente engajado e utiliza a arte como agente transformador e mobilizador. E, assim faz desde a sua estreia com “A estória engraçada e singela de Fuscão – o quase capão – e o cabo eleitoral”. 

Assim como “Teodorico”, “Fuscão” surgiu para provocar os eleitores sobre a responsabilidade de escolher os seus representantes nas urnas. A corrupção era exposta através dos atores cujos personagens eram inspirados nos gestuais dos bichos. As fofoqueiras eram como galinhas, os bêbados, cachorros. 

“Quando o problema é difícil de se resolver, é melhor chamar o deputado, ou melhor, o cabo eleitoral dele”. Assim era a descrição do espetáculo de rua, que era encenado em pontos de ônibus, nas periferias. A peça chegava onde o povo estava e, algumas vezes, de maneira inesperada. Certa vez, no bairro Teotônio Vilela, o público desavisado se revoltou com a cena e colocou os atores do recém-criado Teatro Popular de Ilhéus para correr embaixo de xingamentos e pedradas. 

“Que outro jeito não tem! Aí, até o telefone funciona! E a imbulânça vem logo-logo. Acontece, que o deputado tem mais imbulânça do que Valderico tem de ônibus”. Mas o povo de Oriocó, que não é besta nem nada, bota o cabo eleitoral para correr. 

Em 2004, após a morte de Équio Reis, Romualdo Lisboa remontou A estória engraçada e singela de Fuscão – o quase capão – e o cabo eleitoral” na Casa dos Artistas de Ilhéus. O espetáculo obteve da Fundação Cultural do Estado da Bahia o Prêmio de Estímulo à Montagem.

sábado, 30 de junho de 2012

Depoimentos - Elielton Cabeça


Cabeça em cena de "Lendas da Lagoa Encantada"
No ano de 2004, Tânia Barbosa me convidou para uma das experiências mais revolucionária de minha vida: Fazer parte de um espetáculo teatral da Cia. Boi da Cara Preta, núcleo infantil do Teatro Popular de Ilhéus (TPI). Naquele momento, eu não sabia, mas quando aceitei a proposta, não aceitava somente a um convite de trabalho, aceitava a condição de repensar e reestruturar o meu modo de fazer arte.

No TPI, fazer teatro, ao contrário do que se mostra, não é se vestir de outros personagens. É, além de tudo, despir o seu. É se expor sem medo, é conhecer com propriedade cada articulação de seu corpo para, num momento oportuno, poder gritar com todas elas as ideias em que acreditamos. É se libertar das amarras que outrora limitavam a forma de criar. E isso é uma possibilidade maravilhosa do fazer teatro.

De todas as artes, o teatro e a que permite de forma mais clara esse diálogo e compreensão. Está tudo posto, o banquete das artes, todas as a serviço de uma. E, dentre todas elas, a música tem a sua alegoria especial. De forma sutil ou exagerada, aguça as emoções, capaz de dar o tom , inverter sentimentos e até de estragar com tudo, presença marcante nunca passa despercebida.

De todas as trilhas que tive o prazer em compor, o resultado final de Lendas da Lagoa Encantada, sem dúvida é o mais satisfatório. Uma sereia de canto lírico, uma mula percussionista, um batera protagonista - pra não dizer perfeccionista - e um coro de meter inveja em qualquer coral norte americano, fez com que todo o esforço pra poder compor uma música que soasse suave aos ouvidos (afinal, o espetáculo é infanto-juvenil) se tornasse muito mais fácil. Na intensidade de suas batidas e na força de seus cantos, traziam para mim, mesmo que sem querer, a possibilidade de experimentar sem limitações.

Daí, a peleja entre o erudito e o popular, o maracatu para o povo celebrar suas festanças, e os batuques para as lendas saudar, tornaram-se sim, sons reais. Tive a sorte em lidar com um grupo de jovens, com fácil desenvoltura, sem vícios da estrada, e, de quebra, com bom gosto musical. Eu me fartei a transitar assim nos mais variados estilos: rock, xote, reggae, baião, ijexá, tudo o que compunha era possível executar. O que mais poderia querer? Ah, sim, claro! Um maestro conselheiro, de nome Antônio, por sinal, destaque para sua especialidade, ajuste da palavra na métrica.

Enfim, com toda poesia, leveza e contundência que o texto da Lagoa impõe, com todas as sagazes sacadas que a direção nos conduz e com toda a experimentação libertária musical. Fica carimbado mais uma vez, a marca do Teatro Popular de Ilhéus. Pau na máquina, a revolução vai começar!